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À CONVERSA COM A CAVALEIRA SORAIA COSTA
À CONVERSA COM A CAVALEIRA SORAIA COSTA
18 de Abril de 2014

Soraia Costa a primeira cavaleira do norte fará a sua estreia nas praças dia 27 em Estarreja ao lado de seu pai
No passado dia 18 de Abril, fomos até Benavente e estivemos à conversa com a primeira cavaleira do norte do nosso país, Soraia Santiago Costa de 19 anos, natural de Santa Maria da Feira, que sai à praça pela primeira vez no próximo dia 27 de Abril, em Estarreja. Acompanhada pelo seu pai, o cavaleiro José Carlos Portugal, será também a primeira vez que Portugal vê pai e filha, juntos em praça.

FT - A Soraia é cavaleira …

SC – Cavaleira amadora.

FT - Como nasceu o gosto pela arte de tourear?

SC – Sempre tive cavalos em casa e desde pequenina estive em ligação com eles, é uma paixão que nasceu comigo. Comecei a montar a cavalo desde muito cedo e aos cinco anos comecei a praticar hipismo e a entrar em provas de obstáculos. Quando o meu pai decidiu entrar no mundo dos toiros, despertou em mim a curiosidade pela festa brava. Sempre o acompanhei e sem ter aprendido nada, chegava a casa e tentava fazer na tourinha o que os toureiros faziam nas praças. Mais tarde, comecei a ter aulas com o mestre Luís Valença, pessoa por quem tenho muita estima e consideração e foi com ele que tive as primeiras aulas de verdadeira equitação, sendo para mim um ídolo.

FT – O facto de o seu pai ser cavaleiro teve influência na sua escolha?

SC – Sim, sem dúvida. O gosto e a paixão pelos cavalos, pelas corridas de toiros, eu já tinha, tendo-se fortalecido com o facto de o meu pai ter começado a tourear. Ajudou sem dúvida alguma.

FT - Quem a motivou e motiva na sua carreira?

SC – Sem dúvida alguma tenho o apoio imprescindível do meu pai. É sem dúvida o meu pilar.

FT – Qual a reação da sua mãe e do seu pai quando decidiu ser cavaleira?

SC – Inicialmente, ficaram um bocadinho receosos. O meu pai não tanto, mas a minha mãe como já tinha o marido neste mundo, ter agora a filha, foi um choque maior. Diz não me ir ver tourear porque não consegue, não tem coragem.

FT - O que pensa que irá sentir quando vestir a sua casaca pela primeira vez?

SC – Emoção, muita emoção. Eu sonho com o dia da apresentação com o dia de vestir a jaqueta, é um misto de emoções, um sentimento inexplicável.

FT - Vai fazer a sua primeira aparição nas praças portuguesas. Como se sente?

SC – É um misto de sentimentos e de emoções. É um sonho que sempre tive e concretizá-lo é sem dúvida um sonho tornado realidade.

FT – Na sua primeira entrada em praça, quem gostaria de ter perto de si?

SC – Sem dúvida o meu pai, que vou ter, e gostava muito da cavaleira Sónia Matias, que admiro muito como mulher e pela garra que tem.

FT – Tem alguma superstição para a entrada em Praça?

SC – Algumas, como por exemplo o benzer, pé direito à frente…

FT - Que expectativas tem para a corrida de dia 27?

SC – Espero não desiludir o público, pelo contrário, quero surpreender. Tenho a expectativa de que as coisas irão correr bem.

FT - Nesse dia vai entrar em praça rodeada do seu pai e de “um monstro” do toureio chamado Joaquim Bastinhas. O que significa para si ter essas pessoas a seu lado nesse dia tão importante?

SC – É uma grande responsabilidade e apesar de ser principiante e de estar a começar, espero estar à altura, não desiludir e superar os obstáculos e dificuldades que apareçam.

FT - A Soraia é a 1ª cavaleira do norte do país. Acha que estar mais longe dos locais onde a época se faz, a vai prejudicar?

SC – Talvez. Por um lado, não havendo muita tradição no Norte e eu estando a estudar no Porto, implica que para conciliar as coisas tenho de estar num lado e noutro tornando tudo mais complicado. Não tendo, no Norte, bandarilheiros, toiros de lide, nem pessoas que percebam e entendam deste mundo, estando fixados no Sul, faço muitas viagens andando de malas atrás, sendo muito cansativo, não tendo tempo para nada. Mas, como “quem corre por gosto não cansa”, temos de nos sacrificar por aquilo que queremos e o triunfo terá outro sabor.

FT – O curso na faculdade tem alguma ligação à arte de tourear?

SC – Não, muito pelo contrário. Estou a estudar na área de Direito, estou a tirar o curso de Solicitadoria, não tem nada haver.

FT - Para além de si, quem está por detrás do trabalho que tem vindo a realizar, para agora o mostrar ao público aficionado?

SC – Sem dúvida, José Carlos Coutinho. É a pessoa que me está a ajudar e a apoiar tanto a nível de equitação como nas bases do toureio, nas dicas e nos treinos, tem sido sem dúvida a pessoa fundamental. No entanto, não posso deixar de referir e agradecer ao Mestre David Ribeiro Telles, pessoa por quem tenho muita admiração e consideração, por me ter aberto as portas de sua casa e desde logo a ter colocado à minha disposição para realizar os meus treinos, assim como também os ensinamentos que me tem transmitido. Não esqueço também os restantes cavaleiros da Torrinha, que têm sido incansáveis.

FT - Para além da sua vida e futura carreira tauromáquica, o que faz no dia-a-dia?

SC – Neste momento, estando a tirar o curso, é estudar e o pouco tempo que tenho livre é dedicado aos cavalos que tenho aqui no picadeiro do José Carlos Coutinho e aos que tenho no Norte, também tenho de os montar e treinar.

FT – Qual é a reacção dos colegas que sabem que toureia ou que vai iniciar-se nessa arte?

SC – Inicialmente não demonstrei muito, porque no Norte embora haja muitos aficionados, a verdadeira afición está cá em baixo e eu tinha receio de pronunciar. As pessoas sabem que tenho uma quinta, que tenho cavalos, que monto desde pequenina, mas tive sempre mais receio de falar sobre a parte de tourear. Agora que as coisas estão a andar para a frente e que eu comecei a falar e a demonstrar-me um bocadinho, fiquei bastante surpreendida porque tenho tido o apoio de todos os meus amigos e colegas e mesmo eles têm ficado muito surpresos e com muita curiosidade querendo saber mais sobre este mundo da tauromaquia.

FT - Quantas horas treina por dia?

SC – Quando estou no Sul, no picadeiro, estou de manhã à noite sempre a montar. No Norte, monto os cavalos que lá tenho, apenas depois das aulas, e no resto do tempo que tenho disponível.

FT - Como ocupa o seu tempo livre?

SC – Agora praticamente não há tempo livre, porque o estudo ocupa grande parte dele, mas tento conciliar tudo. E para além disto, sempre que posso, saio com os amigos, de modo a não perder as amizades, as raízes e o contacto.

FT - O que gosta de fazer para além de tourear?

SC – Sou muito aventureira, adoro andar de mota, moto 4, no verão mota de água, uma vez que tenho também a carta de marinheiro. Adoro coisas radicais. E para além disto ainda toco concertina e acordeão.

FT - Pensa em termos profissionais ser algo mais do que uma Cavaleira Tauromáquica?

SC – Sim, sem dúvida, daí estar a tirar o curso que estou a tirar. Gostava de no futuro ser Agente de Execução. No entanto, vou trabalhar para concretizar o meu sonho, de ser figura do toureio a cavalo.

FT - Encontra diferenças no toureio de um homem e de uma mulher? Se sim, quais são essas diferenças?

SC – Talvez na mulher as dificuldades por vezes sejam mais acrescidas, uma vez que o homem tem mais força e isso facilita em certas situações, a mulher terá de se esforçar mais. Mas, na minha opinião, não há uma grande diferença.    

FT - Descreva-nos o seu toureio.

SC – Ainda estou a começar, nunca entrei em praça, mas pretendo que seja um toureio frontal com umas lides sérias, respeitando as normas, andando correcta dentro de praça e que chegue ao público com facilidade. 

FT - O que é para si um(a) bom/boa toureiro(a)?

SC – É aquele que tem um grande poder artístico, que ande correcto dentro de praça, que tenha garra, grande vontade de querer e vencer, e que consiga transmitir emoção e alegria de modo a chegar facilmente ao público.

FT - Tem algum(a) toureio(a) que lhe sirva de inspiração? Algum ídolo?

SC – Aprecio bastante o Sr. António Ribeiro Telles pelo seu toureio clássico. No entanto, todos são importantes e têm o seu valor, cada um à sua maneira mas, é essa diferença que torna a Festa mais bonita.

FT - Com quem gostava de partilhar um cartel?

SC – Neste momento e estando no princípio de carreira, tourear com qualquer uma das figuras do nosso país, seria bastante profícuo para mim.

FT - Qual o seu sentimento em relação aos forcados?

SC – Valor, muito valor. Acho que na festa é uma das partes fundamentais, pois é de uma coragem, uma força enorme estar ali a dar o corpo a um toiro.

FT - Indique-nos uma praça onde sonhe actuar.

SC – Sem dúvida a praça do Campo Pequeno, no entanto actuar na Póvoa do Varzim e na Figueira da Foz é também importante para mim, pois são as praças que existem mais a Norte. E a praça da Nazaré, a qual tenho um carinho especial.

FT - Qual é a sua quadra para 2014?

SC – Tenho neste momento quatro cavalos, o Alicante com o ferro da Sociedade das Silveiras, o Robles com ferro Rio Frio, o Aquiles e o Equador.

FT - Quantas corridas pensa fazer em 2014? Pensa tourear fora de Portugal? Se sim, onde?

SC – Ainda estou no início, mas tenho mais algumas corridas faladas. Confirmadas tenho a Corrida de dia 27, em Estarreja e no dia 15 de Maio, na Figueira da Foz, a Garraiada dos Estudantes. Tourear fora de Portugal poderá ser uma opção, no entanto, ainda estou a começar e quero levar as coisas com calma.

FT - Alguma ganadaria em especial que gostasse de lidar?

SC – Não, não tenho nenhuma em especial, visto que ainda estou a começar. Mas gostaria de puder lidar toiros de todas as ganadarias e superar as dificuldades que cada um possa apresentar.

FT - O que pensa das Ganadarias portuguesas?

SC – Penso que temos boas ganadarias, que permitem transmitir boas lides.

FT - Entende como útil o papel do apoderado?

SC – Neste momento, não tenho apoderado, mas entendo o seu papel como útil na medida em que a sua não existência torna mais difícil a entrada no meio.

FT - Gosta de assistir a corridas de toiros?

SC – Sim, bastante. Quando estou a assistir a uma corrida só me imagino lá dentro e vivo a corrida como se fosse eu a estar lá.

FT - O que sente sentada numa bancada quando assiste a uma corrida?

SC – Imagino-me lá dentro, e vivo aqueles momentos com grande intensidade, colocando-me sempre no lugar de quem lá está.

FT - O que acha que poderia ser feito para “chamar” mais pessoas às praças e para melhorar a Festa dos Toiros em Portugal?

SC – Deveriam ser dadas oportunidades aos novos, apostando na diversificação dos cartéis. E ainda, o facto de que, na minha opinião, deveriam ser transmitidas mais corridas de touros televisionadas, e programas ligados à tauromaquia, por forma a não deixar enfraquecer esta tradição, e a divulgar mais sobre esta arte, pois a tauromaquia é o espectáculo com mais aderência e mais “adeptos” a seguir ao futebol.

FT – Qual o conselho ou sugestão que dá a jovens que pretendam iniciar-se neste mundo?

SC – Eu contra mim falo, o sonho fala mais alto e a vontade, o querer muito, havendo possibilidades, o não concretizar um sonho é mutilar-nos a nós próprios, mas tenho consciência e transmito isto, que é um mundo bastante complicado, bastante restrito e que não é fácil de vincar nem de entrar. A mensagem que posso deixar é que quem gosta deve seguir o sonho e lutar por ele, ultrapassando os obstáculos.

NUMA PALAVRA:

Um cavaleiro(a)?   António e João Ribeiro Telles                 

Uma ganadaria? Camarate

Um forcado? Nuno Mata           

Um toureiro? Luís rouxinol e Sónia Matias               

Um bandarilheiro? João Pedro - Juca

Uma praça? Campo Pequeno   

Um cavalo? Sultão                                  

Um colega? João, pois é uma pessoa que me tem apoiado bastante

Um clube?   Benfica                     

Um jogador? Ronaldo                             

Um filme? Flicka

Um destino férias? México        

Um país? Portugal , o meu país                        

Uma cidade? Porto, é a minha cidade

Praia ou campo? Gosto muito das duas… praia e campo  

Comida favorita? Francesinha                          

Um sonho? Ser máxima figura do toureio a cavalo

 

Uma palavra/sugestão para o forcadilhas e toiros.

Gosto muito do site, sempre que posso, vou ver as novidades. Gostei muito da “divisão” efectuada relativamente à reportagem das corridas e é de referir a aposta efectuada nos novos valores da tauromaquia, que desde já agradeço. Deixo um elogio ao vosso trabalho, e às pertinentes perguntas que me fizeram.

 

Autores da entrevista: CÉLIA DOROANA / ARMANDO ALVES