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FALECEU SIMÃO NUNES COMENDA VITIMA DE COVID
FALECEU SIMÃO NUNES COMENDA VITIMA DE COVID
02 de Fevereiro de 2021

A nossa homenagem por Mariana Malta Carvalho

Nestes momentos faltam palavras e sobram as lágrimas, no entanto, não podia deixar de escrever algumas palavras sobre quem hoje por desgraça nos deixou, ainda que não valham muito, vêm do coração de quem muito admirava o grandioso homem que foi Simão Comenda. Apesar de faltarem palavras, não haverá pessoa sobre a qual seja mais fácil escrever do que o Simão, aliás, a sua vida extraordinária merecia não um, mas vários livros.

Simão José Nunes Gomes Comenda nasceu em Montemor-o-Novo a 21 de Agosto de 1941. Engenheiro Técnico Agrário de formação, forcado de corpo e alma, tendo sido, e digo-o com toda a ousadia e sem quaisquer reservas, o melhor rabejador de todos os tempos, deixando marca eterna no Grupo Forcados Amadores de Montemor. Dotado de um vasto conhecimento sobre o touro e uma coragem desmedida, fez parte, com o meu bisavô Simão Malta que tanto adorava, do primeiro grupo de forcados a pegar no México, no qual ganhou uma valente cicatriz de uma cornada que sofreu. E que histórias contava ele do México, dignas de filmes de Hollywood! Desde pequena que me fascinava com o seu contar, a maneira como pausava no momento certo para dar ênfase aos momentos e como, sobretudo, com a sua generosidade desmedida nos fazia sentir parte das aventuras. Atendia a todas as minhas questões e a porta da sua casa, para minha sorte, estava sempre aberta para quando eu quisesse ir passar um serão na sua companhia e da esposa, a notável Vitória. Que falta sentirei das nossas tardes a ver as corridas de Sevilha na televisão, nas quais o Simão ficava sempre feliz quando o seu toureiro de eleição conseguia o triunfo, de os ouvir em conjunto contar a sua última viagem ''coisas incríveis que nós vimos Marianita!’’ dizia sempre. Lugar cativo na barreira do Campo Pequeno, sempre atento à arena, o centro do seu mundo, o mundo do touro. Consigo aprendi a ver uma pega, a importância de cada um dos elementos, desde o cara até ao rabejador, a quem prestava especial atenção, pois era seu esse lugar, sempre foi e sempre será.

Não acredito que haja alguém no mundo que não gostasse do Simão. Figura incontornável de Montemor que tanto fez pela afición nesta cidade, primeiro como forcado e mais tarde como empresário da Praça de Touros. Todos os anos conversávamos sobre os possíveis cartéis de Setembro, pedia e aceitava de bom grado todas as minhas opiniões e logo depois me explicava se resultava ou não e porquê, nunca com arrogância, sempre com bondade e vontade de ensinar, que eu muito prezava. No dia das corridas estava sempre uma pilha de nervos, não gostava de desiludir e a verdade é que nunca o fez. Custa-me acreditar que nunca mais verei o jipe estacionado à porta do Bacalhau, que nunca mais verei a boina a andar de um lado para o outro na trincheira da sua praça, a de Montemor, que fez sempre cheia. A barreira do setor 1 do Campo Pequeno nunca mais vai ser a mesma, acabaram-se as viagens nas suas palavras ao México, a Espanha, a Jacarta, a Macau. Caem-me as lágrimas de pensar a pessoa que perdemos. Orgulho-me profundamente por poder dizer que era meu amigo pois não havia maior exemplo de dignidade, honestidade e bondade do que o meu amigo Simão. Desapareceu prematuramente com 80 anos, ainda tinha muito que fazer, muita história para contar...

A morte não leva a vida, a vida é o que fica a pairar como uma pena que vai dançando, que nunca vemos chegar ao chão. Leva a presença mas não leva a memória. É dura mas não destrói o que se construi durante anos em que estivemos. E que vida construiu, cheio de amigos que o adoram, cicatrizes que mostravam o homem corajoso que foi e um coração onde cabia o Mundo! Querido Simão, dê um abraço ao meu bisavô aí em cima, gosto muito de si! Ensinou-me que a coisa mais importante da vida é nunca virar costas ao toiro e a verdade é que o Simão jamais virou as suas. No meio de tanto, só sobra uma palavra...OBRIGADA!

Os meus mais sentidos pêsames à sua esposa Vitória e aos filhos, Simão e Eduarda