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IMAGENS E CRÓNICA DA CORRIDA DE TOIROS EM SANTARÉM
IMAGENS E CRÓNICA DA CORRIDA DE TOIROS EM SANTARÉM
27 de Setembro de 2020





Boa corrida de toiros com casa esgotada

Santarém é, por si só, uma praça com toda uma mística à sua volta. Maior praça de toiros do país, com um público exigente e com responsabilidade acrescida.

Ainda umas horas antes do início da 1ª corrida da cidade Scalabitana, já era dado a conhecer o estado da lotação da mesma: ESGOTADA tendo em conta o número de lugares permitidos face à legislação imposta pela DGS.

O cartel em si era promissor!

A cavalo António Ribeiro Telles, João Moura Jr e Francisco Palha enfrentando toiros de 2 das mais prestigiadas ganadarias portuguesas: Murteira Grave e Veiga Teixeira.

Pelas jaquetas de ramagens, assistimos ao eterno “duelo de titãs” entre os emblemáticos Grupo de Forcados Amadores de Santarém VS Grupo de Forcados Amadores de Montemor.

No 1º toiro, um exemplar que pesou 510 kg da ganadaria de Veiga Teixeira, António Telles entrou em praça e brindou ao público. Esperou o Teixeira em sorte de gaiola e, como é de seu apanágio, o estilo clássico destacou-se e a sua maestria evidenciou-se frente a um animal que esperava pelo cavalo para investir de forma a conseguir “ceifar” o mesmo. O cavaleiro mais velho da Torrinha no ativo, em nada se deixou enganar e teve uma lide correta escutando música no seu segundo curto. Deu a volta ao negro com classe e com bons momentos de cravagem.

 A 1ª pega da tarde foi executada pelo grupo Scalabitano, indo à cara o forcado António Taurino, deparando-se com um oponente que arrancou de largo e com pata, mas o jovem arrimou-se, recebeu-o e fechou-se indo ao encontro do grupo, o qual se fechou com prontidão garantindo assim uma pega à primeira.

O 2º toiro, primeiro da tarde da Ganadaria de Murteira Grave, acusou 525 kg na balança e calhou em sorte a João Moura Júnior.

Moura Jr tem vindo cada vez mais a causar impacto por onde passa e já se trata de um nome que deixa qualquer espectador com enorme expectativa!

O Grave foi recebido de forma interessante aguentando a sua saída dos curros com velocidade! Para que tenham noção, no segundo ferro comprido, João deu volta à praça com o hastado perseguindo-o sem intervenção dos seus peões de brega, entrando na secção dos ferros curtos e, da melhor forma, escutando música após o seu primeiro.

Por Montemor, abriu praça João da Câmara. Forcado com provas dadas, apesar de não se ter agarrado da melhor forma ao receber o toiro, ajeitou-se e fixou-se conseguindo assim “marcar” para o seu grupo à primeira. 

Eis que, sai à arena o 3º da tarde com 500 kg. Além da sua pelagem apelativa, veio reafirmar o patamar de excelência em que a ganadaria pertencente ao Dr.  Joaquim Grave se posiciona no que diz respeito à criação de toiro bravo. Um toiro nobre, com pata e carisma! A Francisco Palha, calhou o melhor da tarde e decidiu abrir a sua lide em sorte de gaiola, capturando desde logo a atenção do público presente. Francisco é um cavaleiro que arrisca, mas, frente a um negro burraco de excelência que arrancava de praça a praça, não é certo que o risco compense! Por vezes surgem os toques nas montadas que, em tempos idos, não eram aceitáveis.

Palha tem raça e garra, quer fazer o impensável e em todas as suas lides empenha-se a 200%, apenas pecando pelos toques observados.

Excluindo isso, teve ferros de nota alta e deixou ambiente e expectativa para a segunda lide.

Lourenço Ribeiro por Santarém viu a sua primeira tentativa um pouco agreste, dando uma pirueta no ar e acabando por se fechar definitivamente à terceira, aguentado toda uma força de um animal encastado.

O ganadero foi chamado à praça com todo o mérito e, indultou mais um toiro! O “Inquieto” voltou a casa, onde irá propagar a sua linha genética deixando imensa expectativa para o futuro da Galeana. 

O 4º da tarde, também Murteira Grave, permitiu a António Ribeiro Telles brindar os presentes com uma lide compassada e inspirada, apresentando uma boa série de ferros curtos. Prestação muito agradável e de salientar o facto de, por mais de uma vez levar o toiro “debaixo do braço”, literalmente. António nunca está mal e demonstra que o estilo clássico não “sai de moda”, sendo sempre algo que deleita os aficionados que vivem e sentem a tauromaquia como um orgulho no que é ser Português. Fechou a sua prestação nesta arena de forma muito agradável.

António Calça e Pina, por Montemor, deixou o público especado quando todos achavam que a pega estava feita e heis que o toiro passou por cima de António e do primeiro ajuda deixando o forcado de cara em mau estado na arena, tendo de recolher à enfermaria e ser dobrado. O Grupo de Montemor pegou então na sua segunda tentativa indo à cara Bernardo Dentinho. 

O 5º toiro, com 520 kg de Veiga Teixeira, pedia mais proximidade.

Perseguia pouco o cavalo, obrigando João Moura Júnior a pisar terrenos de compromisso e a aguentar a investida carregada no momento da cravagem. Teve algumas passagens em falso, mas que após a execução de 2 “Mourinas” (famosa sorte por si desenhada) de excelência, creio que o público nem pensou em mais nada, ficou rendido e abismado. Tem mérito, tem destreza e afirma-se no top referente ao toureio equestre.

Santarém, encerrou a sua obra pegando o Teixeira à primeira, sendo o forcado de cara Francisco Graciosa, que tem vindo a afirmar-se na arte de pegar toiros. Esteve bem e agarrou-se de “pedra e cal” durante a viagem!

O último da tarde com 500 kg e da casa Veiga Teixeira foi recebido em sorte de gaiola por Palha, resultando num momento de impacto apesar do toque que levou.

Nos curtos andou bem e sério. Ainda surgiu alguma aflição quando o toiro o alcançou no braço e quase o arrancou de cima da montada, criando um momento de desequilíbrio, mas que foi prontamente ultrapassado pelo ginete, agarrando-se firmemente ao pescoço do cavalo e ao arção da sela para se recompor.

Enfrentou um exemplar com arranques de um extremo da arena ao outro permitindo dar mais ênfase ao momento da cravagem. 

A 6ª e última pega foi executada ao segundo intento pelo forcado de Montemor José Maria Vacas de Carvalho fechando-se bem e tendo um grupo coeso.

6 toiros que no geral cumpriram bem o seu propósito, representaram bem as suas divisas mas com especial destaque para o 3º toiro pertencente à ganadaria de Murteira Grave. Estão também de parabéns a empresa “Praça Maior” por toda a organização e todos os aficionados por cumprirem as regras impostas pela DGS.

Encontramo-nos em tempos onde não só nos confrontamos com uma pandemia que põe em causa a Festa Brava, como também nos debatemos com uma “ditadura do gosto” tóxica e mesquinha por parte de uma Ministra da Cultura que de Cultura Taurina (que me perdoem os mais tolerantes) percebe ZERO!

É tempo de parar, refletir e reunir forças para o que aí vem. Mas, primeiro…desfrutar do que ainda nos resta desta temporada atípica.

Crónica: ENGª TÉCNICA MARTA PENEDO

Fotos: ARMANDO ALVES